Primeiramente, vamos ressaltar que o termo bissexualidade designa uma disposição inata no ser humano que opera em dois níveis: biológico e psíquico. Biologicamente, a determinação do sexo ocorre com base na origem embrionária, na forma como os cromossomos X e Y se desenvolvem, resultando em indivíduos do sexo masculino e feminino.
No aspecto psíquico, porém, o mais importante está relacionado às identificações que o filho (ou filha) faz tanto com a figura paterna quanto com a materna, o que resultará em características predominantemente consideradas femininas e/ou masculinas em cada pessoa.
É importante esclarecer um erro muito comum. A bissexualidade natural é uma característica universal e indica que cada pessoa possui ao mesmo tempo uma parte masculina e uma parte feminina, enquanto o termo bissexualidade referente à prática bissexual tem o sentido de que a pessoa se envolve amorosamente (e/ou sexualmente) com um ou outro sexo diferente do seu. Ambas são consideradas - e não poderia ser diferente - pela Psicanálise como naturais e inerentes ao ser humano.
Logicamente, mesmo sendo portadores da bissexualidade natural inerente a todos, isso não tem nenhuma relação com a orientação sexual do indivíduo. Ele pode ter apenas práticas e desejos heterossexuais, mas a força psíquica possui traços bissexuais. Ou seja, psiquicamente falando, ninguém é exclusivamente homem ou mulher.
Existe uma diferença entre sexo biológico e gênero sexual. Desde cedo, as identificações do filho (ou filha) com as figuras parentais começam, com uma predominância natural do menino em relação aos atributos masculinos da figura paterna e da menina em relação à figura materna. Por uma série de fatores considerados naturais, pode ocorrer que essa identificação ocorra de forma não positiva. Por exemplo, um casal tem três filhas e deseja ardentemente ter um filho.
No entanto, na quarta gravidez, nasce mais uma menina. É possível que a educação seja dada como se fosse um menino. Por isso, é possível que o menino adote e admire atitudes consideradas femininas, assim como pode acontecer com a menina.
Tudo isso ocorre independentemente do sexo biológico. Ou seja, o sexo biológico está relacionado à presença de pênis ou vagina, enquanto o gênero sexual refere-se a atitudes, comportamentos e inclinações predominantemente masculinas ou femininas.
É importante ressaltar que tanto a homossexualidade, a bissexualidade e as questões de gênero não são distúrbios, nem doenças. São simplesmente o resultado natural de fatores do desenvolvimento humano, especialmente nas fases iniciais da vida. Não há nada de anormal, nada de mais, apenas o complexo universo humano.
Agora, quando essas características guardadas no inconsciente são reprimidas, podem surgir conflitos entre o ID e o Superego, assim como entre o ID e o EGO, o que pode desencadear distúrbios psíquicos graves. Ou seja, o fato de o indivíduo ter características sexuais "diferentes" do que a sociedade hipocritamente impõe não é uma doença, mas a repressão e o recalque podem causar danos profundos à psique humana.
(Gilberto Luiz de Souza - Psicanalista Clínico - Professor de Psicanálise - Hipnólogo)